Dinner at Eight
1933

Sinopse: Uma socialite de Nova York decide oferecer um jantar e convida um casal de aristocratas ingleses que está na cidade. Os preparativos expõem a frivolidade e a decadência de anfitriões e convidados.
Em 1932, Irving Thalberg, da MGM, fez uma aposta ousada ao montar um elenco superestrelado para Grande Hotel (Grand Hotel). Uma tacada de mestre: a produção foi o maior sucesso de público do ano e conquistou o Oscar de Melhor Filme.
Porém, no final daquele ano, o produtor sofreu um ataque cardíaco e teve de passar um longo período afastado para se recuperar. Em fevereiro de 1933, Louis B. Mayer, que já vislumbrava uma mudança na estrutura de poder do estúdio, aproveitou a ausência do “menino prodígio” para contratar Walter Wanger e David O. Selznick – seu genro, vindo da RKO Radio Pictures.
Ansioso para mostrar serviço e calar as acusações de nepotismo, Selznick decidiu repetir a fórmula de Grande Hotel em seu primeiro projeto na casa do sogro. Reuniu o cameraman William H. Daniels e o diretor de arte Cedric Gibbons, trouxe o diretor George Cukor da RKO (em troca de Lionel Barrymore), e assim nasceu Jantar às oito.
Seis atores do predecessor reaparecem no novo filme: Lionel e John Barrymore, Wallace Beery, Jean Hersholt (dessa vez listado entre os coadjuvantes) e, em papéis menores, Edwin Maxwell e John Davidson. Joan Crawford chegou a ser cogitada, mas acabou dando lugar a Madge Evans. Completam o time principal Marie Dressler, Jean Harlow, Lee Tracy, Edmund Lowe e Billie Burke.

O filme é baseado na peça homônima de George S. Kaufman e Edna Ferber, que teve 232 apresentações na Broadway de outubro de 1932 a maio de 1933. O roteiro é de Frances Marion e Herman J. Mankiewicz, com diálogos adicionais de Donald Ogden Stewart. Kaufman, Ferber, Mankiewicz e Stewart eram membros do Algonquin Round Table, grupo de escritores e artistas que, na década de 1920, se reuniam no Algonquin Hotel, em Nova York, e ficaram nacionalmente famosos por sua obra satírica e seus comentários espirituosos.
Portanto, Jantar às oito não poderia ser outra coisa senão uma sátira à alta sociedade nova-iorquina e seu mundo de vaidade e hipocrisia. A estrutura narrativa também lembra a de Grande Hotel, com um mosaico de histórias distintas que se cruzam. Ambos giram em torno de personagens que têm (ou já tiveram) muito dinheiro, poder e prestígio, mas entraram em decadência – tanto financeira como moral.
Millicent Jordan (Burke), uma dondoca da Park Avenue, decide convidar Lorde e Lady Ferncliffe, um abastado casal inglês, para um jantar. Baratinada com os preparativos, ela nem se dá conta dos problemas à sua volta.
Seu marido, Oliver (Lionel Barrymore) – que acha os Ferncliffe um porre –, é dono de uma empresa de navegação que, com a Grande Depressão, está à beira da falência. Para piorar, ele é diagnosticado com uma doença incurável pelo dr. Wayne Talbot (Lowe), que também irá ao jantar. (Eis aí outra semelhança com Grande Hotel: nos dois filmes Lionel interpreta um doente terminal.)

Oliver pede à esposa que convide a atriz Carlotta Vance (Dressler), seu antigo amor de juventude, que hoje é acionista da empresa. Outrora uma diva dos palcos, Vance caiu no ostracismo e quer vender as ações, mas Jordan está sem fundos.
Para fazer par com Carlotta, Millicent convida mais um ator ultrapassado: Larry Renault (John Barrymore), um ex-astro do cinema mudo que entrou em declínio graças à chegada dos filmes falados – e ao álcool. Sem enxergar que está acabado, ele insiste para que seu agente, Max Kane (Tracy), lhe arranje um papel de destaque na Broadway, mas Kane só consegue pontas irrelevantes. Casado pela terceira vez, Larry tem um caso secreto com a filha dos Jordan, Paula (Evans), que é quase trinta anos mais jovem e está noiva de Ernest DeGraff (Phillips Holmes).
Dan Packard (Beery), um magnata sem modos que enriqueceu de forma suspeita e tem aspirações políticas, também é acionista da empresa de Oliver e promete ajudá-lo, mas tem segundas intenções. Para fazer um agrado, Jordan pede que Millicent também chame Dan e sua mulher, a igualmente fútil e vulgar Kitty (Harlow). A contragosto, ela aceita. Enquanto Kitty fica deslumbrada com a chance de jantar com gente refinada como os Jordan, Dan reluta em ir, porém muda de ideia ao saber que os Ferncliffe estarão presentes.
Kitty também tem um amante: o dr. Talbot, que, apesar do verniz de médico e marido responsável, se revela compulsivamente infiel, mas sempre consegue o perdão da esposa, Lucy (Karen Morley).

O filme é recheado de elementos que sumiriam das telas após o reforço do Código Hays no ano seguinte: insinuações sexuais, diálogos mordazes, sexo pré-marital, casos extraconjugais e até suicídio.
Jean Harlow consolida seu status de atriz cômica no papel da nova-rica Kitty Packard, que passa o dia na cama cheia de fru-frus dando ordens à empregada e vive às turras com Dan, com quem se casou por mero interesse.
Um dos diálogos mais lembrados do filme é a troca de farpas entre Harlow e Marie Dressler no fim. Na vida real, porém, a jovem e a veterana foram só elogios uma para a outra. O mesmo não se pode dizer de Harlow e Beery. Os dois não se toleravam (bem, parece que ninguém tolerava Beery, mas isso é outro assunto…). Pelo menos a inimizade foi útil na hora de interpretar o casal em pé de guerra.

Outro papel que tem um quê de autobiográfico é o de John Barrymore como Larry Renault. Embora ainda fosse um nome de peso na época, o ator, aos 51 anos, já passara do auge, sentia os efeitos do alcoolismo e estava no terceiro dos seus quatro casamentos. Ele morreria nove anos depois, de cirrose hepática e insuficiência renal. Larry é até chamado de “O Grande Perfil”, que era a alcunha de John na vida real.
Vale mencionar também algumas notas sobre o elenco:
- Selznick queria Clark Gable como o dr. Talbot, no entanto Mayer achou que o papel não estava à altura do astro. Particularmente, acho que Gable não teria a fachada respeitável que Lowe deu ao personagem, mas teria sido mais eficaz como mulherengo e um par mais convincente para sua amiga Harlow.
- O filme tem uma aparição póstuma da atriz Louise Closser Hale, que morreu em julho de 1933, cerca de um mês antes do lançamento. Veterana do teatro, sua carreira cinematográfica durou apenas quatro anos, mas nesse período ela fez trinta filmes.
- Foi o penúltimo filme de Marie Dressler, que faleceu em julho de 1934.
- O ator Edward Woods, mais conhecido pelo papel de Matt Doyle no clássico gângster Inimigo público (The Public Enemy, 1931), faz uma breve ponta como um funcionário do hotel em que Larry Renault mora.

Jantar às oito estreou em agosto de 1933 e foi mais uma aposta certeira da Metro: um grande sucesso de bilheteria, gerou um lucro de quase 1 milhão de dólares para o estúdio.
Ficha técnica: Diretor: George Cukor Elenco: Marie Dressler, John Barrymore, Wallace Beery, Jean Harlow, Lionel Barrymore, Lee Tracy, Edmund Lowe, Billie Burke, Madge Evans, Jean Hersholt, Karen Morley, Louise Closser Hale, Phillips Holmes, May Robson, Grant Mitchell, Phoebe Foster, Elizabeth Patterson, Hilda Vaughn, Harry Beresford, Edwin Maxwell, John Davidson, Edward Woods, Anna Duncan e Herman Bing Roteiro: Frances Marion, Herman J. Mankiewicz e Donald Ogden Stewart (baseado na peça de George S. Kaufman e Edna Ferber) Fotografia: William H. Daniels Produtor: David O. Selznick Estúdio: MGM País: EUA www.imdb.com/title/tt0023948











