
“Muita gente diz que eu abandonei minha arte porque deixei a Broadway e o teatro. Ora essa, eu não sou nenhum artista. Sou um trabalhador. Tenho um ramo de atuação como qualquer outro artífice, e sigo meu ramo onde há trabalho. Agora é em Hollywood, mas não estou amarrado a ela.”
Thomas Mitchell
O cinema não vive só de grandes astros. Por isso hoje vou falar de um dos mais versáteis e carismáticos atores coadjuvantes da Era de Ouro de Hollywood.
Caçula dos sete filhos de um casal de imigrantes irlandeses, Thomas John Mitchell nasceu em Elizabeth, Nova Jersey, no dia 11 de julho de 1892. Sua família era de jornalistas. Anos mais tarde, seu sobrinho James P. Mitchell foi Secretário do Trabalho dos Estados Unidos, no governo do presidente Dwight Eisenhower.
Ao se formar no colégio Thomas também quis seguir a carreira jornalística, mas logo percebeu que gostava mais de escrever para o teatro. Em 1913 decidiu se tornar ator e pouco tempo depois conheceu Charles Coburn, que o apresentou à obra de Shakespeare. Estreou na Broadway em 1916, com a peça Under Sentence.
Ao mesmo tempo, continuou escrevendo e dirigindo. Sua peça Little Accident, escrita em parceria com Floyd Dell (na qual Mitchell também atuou), inspirou três filmes: O pai da criança (Little Accident, 1930), com Douglas Fairbanks Jr.; Little Accident (1939), com Hugh Herbert; e Casanova Júnior (Casanova Brown, 1944), com Gary Cooper.

Mitchell também escreveu o roteiro de dois filmes: Toda tua (All of Me, 1934), com Fredric March, Miriam Hopkins e George Raft, e O coração manda (Life Begins with Love, 1937), com Jean Parker.
Estreou no cinema em 1923, com Six Cylinder Love, mas só voltou a aparecer nas telas treze anos depois, em Mulher sem alma (Craig’s Wife, 1936). E não parou mais. Naquele mesmo ano, ele também atuou na comédia maluca Os pecados de Theodora (Theodora Goes Wild), entre outros. Dos mais de 60 filmes que fez, cerca de 45 foram no período de 1936 a 1946.
Sua carreira cinematográfica decolou com Horizonte perdido (Lost Horizon, 1937), de Frank Capra. A partir daí ele se tornou um dos coadjuvantes mais requisitados de Hollywood. Mas foi o papel de Dr. Kersaint, em O furacão (The Hurricane, 1937), de John Ford, que deu a ele sua primeira indicação ao Oscar.
O grande ano de Hollywood também foi o grande ano de Thomas Mitchell: em 1939, ele ganhou o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por interpretar Doc Boone em No tempo das diligências (Stagecoach), também de Ford. Curiosamente, as duas indicações vieram com papéis de médicos alcoólatras em filmes do diretor.

Naquele ano, Mitchell atuou em três dos dez indicados ao Oscar de Melhor Filme: No tempo das diligências, o vencedor …E o vento levou (Gone with the Wind) – em outra performance memorável, como Gerald O’Hara, o pai de Scarlett – e A mulher faz o homem (Mr. Smith Goes to Washington), novamente com Frank Capra. Ainda apareceu nos clássicos O corcunda de Notre Dame (The Hunchback of Notre Dame) e O paraíso infernal (Only Angels Have Wings).
Em 1941, quando filmava uma cena de O homem que vendeu a alma (All That Money Can Buy), a carruagem que Mitchell guiava tombou e ele teve uma fratura no crânio, recuperando-se após vários meses de internação. O ator mirim Lindy Wade, que estava com ele, conseguiu terminar o filme, mas Thomas foi substituído por Edward Arnold.
Outro de seus papéis mais marcantes foi como Uncle Billy, o tio de George Bailey (James Stewart) em A felicidade não se compra (It’s a Wonderful Life, 1946), novamente dirigido por Capra. Seis anos mais tarde, apareceu em outro faroeste clássico, Matar ou morrer (High Noon, 1952).

No entanto, a partir dos anos 1950 Mitchell direcionou sua carreira para a TV, atuando em séries como Dick Powell’s Zane Grey Theater e Playhouse 90. Em 1953, ganhou o Primetime Emmy de Melhor Ator.
No mesmo ano, na Broadway, ganhou o Tony de Melhor Ator em um Musical por Hazel Flagg, peça baseada no filme Nada é sagrado (Nothing Sacred, 1937). Com isso, Mitchell se tornou o primeiro ator a ganhar a Tríplice Coroa da Atuação, com um Oscar, um Emmy e um Tony.
Mitchell trabalhou com Capra mais uma vez no último filme de ambos para o cinema, Dama por um dia (Pocketful of Miracles, 1961).

Em 1962, atuou na peça Prescription: Murder, interpretando o detetive Columbo, que depois gerou uma famosa série de TV protagonizada por Peter Falk – o personagem já havia aparecido em um episódio da série The Chevy Mystery Show em 1960, vivido por Bert Freed. Columbo foi o último papel de Mitchell.
Thomas Mitchell faleceu de câncer no dia 17 de dezembro de 1962, aos 70 anos, em Beverly Hills.