Os gêneros mais populares dos anos 1930

Os anos 1930 foram uma época definidora na história da sétima arte. Aliados às inovações tecnológicas como a consolidação do som e a evolução do Technicolor, além da produção em escala industrial, muitos gêneros de filmes floresceram nessa década.

Que tal conhecer os gêneros mais populares do cinema dos anos 1930?


MUSICAL

Durante a Grande Depressão, a palavra de ordem era escapismo. O público só queria entrar no cinema, esquecer os problemas e sair dançando. Os musicais, alegres, fantasiosos e requintados, eram a válvula de escape perfeita.

A primeira grande produção do gênero foi Melodia da Broadway (The Broadway Melody, 1929), da MGM, que ganhou o Oscar de Melhor Filme. Com o sucesso, na virada da década uma enxurrada de musicais chegou às telas, muitos deles no formato de revista musical e filmados total ou parcialmente em Technicolor. Porém, a overdose logo deixou os espectadores cansados.

A história mudou em 1933, quando a Warner Bros. lançou Rua 42 (42nd Street). Com extravagantes números musicais criados por Busby Berkeley, mostrando dezenas de coristas filmadas do alto se agrupando em formas geométricas, o filme teve um enorme êxito, que salvou o estúdio da falência e levou uma indicação ao Oscar. Berkeley continuou fazendo grande sucesso na Warner até o final da década, quando migrou para a MGM, onde começou a dirigir a dupla Judy Garland e Mickey Rooney.

“By a Waterfall”, criado por Berkeley para o filme Belezas em revista (Footlight Parade, 1933)

Ainda em 1933 a RKO surfou a onda com Voando para o Rio (Flying Down to Rio), que apresentou Fred Astaire e Ginger Rogers ao público. Daí até 1939, Fred e Ginger fizeram nove filmes para o estúdio, que encantaram as plateias e transformaram a dupla em um ícone da década. Ao contrário dos números caleidoscópicos dos musicais de bastidores de Berkeley, o foco de Astaire e Rogers era a dança, que se integrava ao enredo. Dez anos depois, em 1949, os dois se reuniram para uma última parceria na MGM.

A Metro não ficou de fora e decidiu reavivar o sucesso de Melodia da Broadway com três continuações: Melodia da Broadway de 1936, 1938 e 1940 (Broadway Melody of 1936, 1938 e 1940, lançados respectivamente em 1935, 1937 e 1940), todas com a sapateadora Eleanor Powell. A segunda foi responsável por revelar Judy Garland.

Além dos dançarinos, havia os cantores. O crooner Bing Crosby se tornou um fenômeno. Já a soprano Jeanette MacDonald estrelou diversas operetas ao lado do ator-cantor francês Maurice Chevalier ou do barítono Nelson Eddy.

E não podemos esquecer também de Shirley Temple, a maior estrela mirim de todos os tempos, e o clássico O Mágico de Oz (The Wizard of Oz, 1939), que sacramentou o sucesso de Garland.


FILME DE GÂNGSTERES

No início dos anos 1930, os americanos viviam os estágios finais da Lei Seca, que, de 1920 a 1933, proibiu a produção, a importação, o transporte e a venda de bebidas alcoólicas no país. As guerras entre gangues que contrabandeavam álcool eram manchete frequente nos jornais, e os chefões do crime organizado tinham status de celebridades.

Na contramão do escapismo dos musicais, surgiram os filmes de gângsteres. A Warner, conhecida por suas produções inspiradas na vida real, foi o estúdio mais identificado com o gênero. Em 1931, lançou Alma no lodo (Little Caesar) e Inimigo público (The Public Enemy), que transformaram Edward G. Robinson e James Cagney em astros instantâneos.

Outro clássico é Scarface: A vergonha de uma nação (Scarface, 1932), produzido por Howard Hughes e distribuído pela United Artists. Inspirado no gângster Al Capone, o filme estava pronto em setembro de 1931, mas foi barrado pela censura, que obrigou Hughes a fazer várias alterações, adiando o lançamento para abril do ano seguinte. Mesmo assim, o filme causou rebuliço e foi banido em vários estados americanos. Além de Paul Muni no papel principal, o elenco tem outro ator que ficou marcado pelo gênero: George Raft.

Paul Muni em Scarface

Em geral esses filmes são histórias de ascensão e queda, em que os criminosos chegam ao topo por meio de extrema violência, mas acabam pagando com a vida por seus atos. Os gângsteres são mostrados como uma espécie de anti-heróis bem-sucedidos, que ostentam casas luxuosas, roupas elegantes, carros e belas mulheres.

Essa glamourização incomodou os censores. Com o reforço do Código Hays, em 1934, o gênero ganhou um novo tom, passando a mostrar os criminosos como figuras intrinsecamente más e ressaltando o heroísmo dos homens da lei. Em G-Men contra o império do crime (‘G’ Men, 1935), por exemplo, Cagney “muda de lado” e aparece como um agente do FBI.

Na segunda metade da década, surgiu mais um ator que se destacou no gênero: Humphrey Bogart ganhou fama com A Floresta Petrificada (The Petrified Forest, 1936) e também apareceu em filmes como Beco sem saída (Dead End, 1937), Anjos de cara suja (Angels with Dirty Faces, 1938) e Heróis esquecidos (The Roaring Twenties, 1939) – os dois últimos também com Cagney.

Com histórias baseadas em temas correntes, os filmes de gângsteres têm a cara dos anos 1930. Não por acaso, muitas produções mais recentes do gênero são ambientadas naquela época.


FILME DE MONSTROS

Filmes de terror existem desde os primórdios do cinema, mas o subgênero de monstros é uma das marcas registradas dos anos 1930, com destaque para a famosa série da Universal Pictures.

Tudo começou em 1931, quando o estúdio lançou os dois primeiros grandes clássicos de terror da era sonora: Drácula (Dracula), com Bela Lugosi, e Frankenstein, com Boris Karloff. Ambos foram enormes sucessos, que transformaram os dois atores em lendas e suas caracterizações na imagem definitiva dos respectivos personagens. A repercussão estimulou a Universal a continuar investindo no gênero.

Muitos desses filmes eram adaptações literárias e mesclavam terror e ficção científica. Também se destacavam pelo trabalho inovador de maquiagem e efeitos visuais. Além disso, se caracterizavam por retratar os monstros com uma dose de empatia, como criaturas que recorriam à violência por se sentirem incompreendidas ou rejeitadas, por loucura ou até por amor.

Nos dois anos seguintes vieram A múmia (The Mummy, 1932), também com Karloff, e O homem invisível (The Invisible Man, 1933), com Claude Rains. O segundo é notável por ter uma veia cômica, além de efeitos especiais inéditos.

Esses quatro filmes tiveram diversas continuações, que avançaram pela década seguinte. Porém, as principais são aquelas feitas ainda nos anos 1930, como A noiva de Frankenstein (Bride of Frankenstein, 1935) – um raro exemplo de continuação considerada melhor que o original –, A filha de Drácula (Dracula’s Daughter, 1936) e O filho de Frankenstein (Son of Frankenstein, 1939) – que traz Karloff e Lugosi juntos.

Boris Karloff em A múmia

Ao todo, Karloff e Lugosi atuaram juntos oito vezes. Além de O filho de Frankenstein, destacam-se O gato preto (The Black Cat, 1934) e O corvo (The Raven, 1935).

Fora da Universal, outros filmes de monstros também se tornaram clássicos. O médico e o monstro (Dr. Jekyll and Mr. Hyde, 1931), da Paramount, deu o Oscar de Melhor Ator a Fredric March e ficou marcado pelos efeitos especiais nas cenas de transformação. Já King Kong (1933), da RKO, revolucionou a técnica de stop-motion e apresentou ao mundo um dos personagens mais populares do século XX.


SCREWBALL COMEDY

A screwball comedy, ou comédia maluca, é um subgênero da comédia romântica e surgiu no início dos anos 1930 – portanto, é filha legítima da década. Seu período clássico se estendeu até meados dos anos 1940.

Mas é difícil determinar o marco inicial da screwball comedy. Aconteceu naquela noite (It Happened One Night, 1934), de Frank Capra, costuma ser considerado o primeiro exemplar, mas essa opinião não é unânime. Elementos do gênero já tinham aparecido em filmes anteriores, e há quem discuta se Aconteceu naquela noite é uma comédia maluca pura.

A principal característica da screwball comedy é a sátira às histórias de amor tradicionais. O clima reinante é de guerra (muitas vezes física, beirando o pastelão) dos sexos, com um casal aparentemente incompatível que vive brigando até se descobrir apaixonado. Em geral a mulher tem caráter dominador e gênio forte, deixando o homem acuado. Outro motivo recorrente é o conflito de classes (temática muito popular na Grande Depressão), em que os membros do casal vêm de classes diferentes, e os ricos são ridicularizados. Os roteiros têm ritmo acelerado e são cheios de situações farsescas e diálogos mordazes.

Katharine Hepburn e Cary Grant em Levada da breca

Entre os melhores filmes do gênero nos anos 1930 estão Irene, a teimosa (My Man Godfrey, 1936), Casado com minha noiva (Libeled Lady, 1936), Cupido é moleque teimoso (The Awful Truth, 1937), Nada é sagrado (Nothing Sacred, 1937), Do mundo nada se leva (You Can’t Take It with You, 1938) e Levada da breca (Bringing Up Baby, 1938), além do já citado Aconteceu naquela noite.

Atores como Carole Lombard, Jean Arthur, Barbara Stanwyck, Cary Grant e William Powell são considerados reis da comédia maluca. Diretores como Frank Capra, Leo McCarey e Howard Hawks também se destacaram pelo gênero.


Western

Por ser repleto de ação e tocar fundo no orgulho nacionalista americano, o Western (ou faroeste) é um dos gêneros mais antigos e populares da história de Hollywood. Existe pelo menos desde 1903. Mas foi a chegada do som que iniciou a era de ouro dos faroestes, realçando o corre-corre, o bangue-bangue, os brados de guerra e os relinches.

Grande parte dos Westerns dos anos 1930 eram produções de baixo orçamento (os chamados filmes B), lançadas por estúdios modestos, como a Republic Pictures. Eram filmes geralmente curtos, muitas vezes exibidos em matinês, com histórias simples e cheias de adrenalina, mocinhos e bandidos, que agradavam tanto aos adultos quanto às crianças.

John Wayne em Da derrota à vitória (Westward Ho, 1935), faroeste B da Republic Pictures

Eram muito comuns os seriados, exibidos em capítulos semanais que costumavam terminar com cliffhangers (artifício em que o capítulo termina em aberto, geralmente com o mocinho em uma situação periclitante, instigando o espectador a voltar no próximo para ver o que vai acontecer).

Também faziam sucesso os singing cowboys, que cantavam sobre a vida nas trilhas de imigrantes do Velho Oeste e os perigos enfrentados. Os caubóis cantores mais famosos dos anos 1930 foram Gene Autry e Roy Rogers.

John Wayne, o maior caubói do cinema, estreou como protagonista em A grande jornada (The Big Trail, 1930), de Raoul Walsh. Pelo restante da década, atuou em faroestes B e fez pequenos papéis em filmes de outros gêneros, até alcançar o estrelato com No tempo das diligências (Stagecoach, 1939), dirigido John Ford, o maior mestre do Western.

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