O cinema ganha cor

Os anos 1930 foram não só a década do som, mas também a das cores no cinema. Praticamente desde o nascimento da sétima arte existiram processos de colorização de filmes, mas foi a partir dessa década que eles alcançaram um nível realista e começaram a se tornar mais viáveis, dando origem às primeiras grandes produções coloridas.

Os primeiros filmes em cores, ainda no início do século XX, eram literalmente coloridos – à mão, por métodos como o estêncil. Porém, essas técnicas eram muito rudimentares, trabalhosas e caras, de modo que eram muito pouco utilizadas.

Em 1916 apareceu o Technicolor, cujo mecanismo envolvia um divisor de feixes atrás da lente da câmera, que expunha dois fotogramas simultaneamente, um atrás de um filtro vermelho e um atrás de um filtro verde. Esse processo ficou conhecido como Technicolor de duas cores, ou duas faixas. Em 1922 a empresa criou um processo semelhante, mas utilizando cores subtrativas, que se tornou dominante em Hollywood. Superproduções como Os Dez Mandamentos (The Ten Commandments, 1923), O fantasma da ópera (The Phantom of the Opera, 1925) e Ben-Hur (Ben-Hur: A Tale of the Christ, 1925) tiveram sequências que utilizavam esse processo.

Em 1928 a Technicolor desenvolveu seu terceiro processo de duas cores. Na virada da década, Hollywood lançou uma profusão de filmes total ou parcialmente coloridos com esse sistema, a maioria de gêneros mais populares, como musicais e faroestes. Infelizmente, muitos desses filmes se perderam ou sobreviveram apenas em cópias em preto e branco.

Anjos do Inferno (Hell’s Angels, 1930), o espetacular filme de guerra do aviador/produtor/diretor Howard Hughes que alçou Jean Harlow ao estrelato, foi filmado em Multicolor, mas reproduzido em Technicolor de duas faixas.

O processo foi aperfeiçoado em 1931, removendo granulações da imagem e proporcionando cores mais vivas. Em um acordo com a Technicolor, a Warner Bros. lançou três filmes com essa nova versão: Manhattan Parade (1931), O monstro (Doctor X, 1932) e Os crimes do museu (Mystery of the Wax Museum, 1933).


No entanto, a enxurrada de filmes coloridos ainda caros e pouco realistas saturou o público e pesou no bolso dos estúdios, que já sofriam as consequências da Grande Depressão.

Até que, em 1932, surgiu o processo 4, ou Technicolor de três faixas, que usava três rolos de filme, cada um gravando uma cor do espectro. Finalmente o cinema pôde oferecer aos espectadores imagens com cores vibrantes e reais.

O processo estreou no desenho animado Flores e árvores (Flowers and Trees, 1932), da Disney, que ganhou o primeiro Oscar de Melhor Curta-metragem de Animação. Logo a Disney assinou um contrato de exclusividade para utilização do Technicolor de três faixas em animações, passando a implementá-lo na série Silly Symphony.

O primeiro filme em live-action a ter uma sequência filmada com o Technicolor de três faixas foi o musical O gato e o violino (The Cat and the Fiddle, 1934), da MGM. O primeiro longa-metragem fotografado inteiramente com o processo foi Vaidade e beleza (Becky Sharp, 1935), da RKO. Até aí, o sistema era usado apenas dentro do estúdio. Ele foi utilizado pela primeira vez em locações externas em Amor e ódio na floresta (The Trail of the Lonesome Pine, 1936).

Quem também apostou no Technicolor foi David O. Selznick, que produziu obras como O Jardim de Allah (The Garden of Allah, 1936), Nasce uma estrela (A Star Is Born, 1937) – a primeira película em cores indicada ao Oscar de Melhor Filme – e Nada é sagrado (Nothing Sacred, 1937). Os dois primeiros ganharam Oscars Honorários pela fotografia de W. Howard Greene.

Marlene Dietrich em O Jardim de Allah

Outro exemplo notável é As aventuras de Robin Hood (The Adventures of Robin Hood, 1938), o primeiro filme da Warner a usar o processo.

Olivia de Havilland e Errol Flynn em As aventuras de Robin Hood

Mesmo assim, o Technicolor continuava caro e pouco prático. As câmeras usadas eram grandes e não podiam ser compradas pelos estúdios, apenas alugadas. Aliada a isso, a grande quantidade de iluminação exigida aumentava o orçamento e chegava a causar problemas de saúde nos profissionais.

Nesse panorama, até o fim da década o processo ficou limitado às produções mais prestigiosas. As mais célebres vieram em 1939: O Mágico de Oz (The Wizard of Oz) e …E o vento levou (Gone with the Wind) – este também produzido por Selznick e o primeiro a ganhar o Oscar de Melhor Filme.

O Technicolor continuou sendo o principal processo de colorização até os anos 1950, quando deu lugar ao Eastmancolor. Com o avanço da tecnologia, os filmes coloridos foram se tornando mais comuns, finalmente suplantando o preto e branco em meados da década de 1960.

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