A Star Is Born
1937

Sinopse: Uma jovem aspirante a atriz se casa com um astro decadente de Hollywood. Enquanto ela chega ao estrelato, ele afunda no esquecimento e no alcoolismo.
Nasce uma estrela é um conto hollywoodiano de Cinderela às avessas, com um toque de mea-culpa e em glorioso Technicolor. Conta a história de Esther Blodgett (Janet Gaynor), uma jovem do interior cujo sonho é ser atriz de cinema. Sua avó (a ótima May Robson) a apoia, mas ao mesmo tempo adverte: “Para cada sonho que você realizar, pagará o preço em sofrimento.” Como se profetizasse o futuro da neta, ela relembra como desbravou as terras americanas ao lado do marido, até ele ser morto por um índio, obrigando-a a seguir sozinha. Assim Esther parte em sua jornada, levando junto o espectador em um mergulho na Hollywood dos anos 1930, com todo o seu glamour e as suas mazelas, mesclando fantasia e realismo.
Lá chegando, ela se vê diante do grandioso Teatro Chinês e observa na calçada as assinaturas de algumas celebridades da tela prateada: Jean Harlow (que, ironicamente, morreu cerca de um mês e meio após o lançamento do filme), Harold Lloyd (ao lado da qual se pode ver parte da marca da própria Janet Gaynor), Joe E. Brown, Shirley Temple e Eddie Cantor, além do fictício Norman Maine, seu ídolo. Na fachada do teatro há um cartaz de O Jardim de Allah (The Garden of Allah, 1936), outro filme em cores produzido por David O. Selznick.
Porém, Esther logo começa a encarar a realidade quando o tempo passa e as oportunidades não chegam. Em uma central de casting, ela é informada de que sua chance é de uma em cem mil – estamos no meio da Grande Depressão e milhares de jovens têm o mesmo sonho. Mesmo assim, ela segue o conselho da avó e não desiste: “Quem sabe eu sou essa uma.”

O primeiro tipo hollywoodiano que Esther conhece é Danny McGuire (Andy Devine), um assistente de direção que está na batalha como ela. É com ele, durante um concerto no Hollywood Bowl, que a heroína vê pela primeira vez Norman Maine (Fredric March), bêbado e se metendo em confusão com a imprensa, que não o deixa em paz.
Também é Danny quem provoca o segundo encontro de Esther e Norman, quando arranja para ela um bico de garçonete em uma festa cheia de figurões da indústria cinematográfica (onde Gaynor nos brinda com hilárias imitações de Greta Garbo, Katharine Hepburn e Mae West). Encantado com a moça, o astro pede ao seu produtor que arranje um teste para ela. Segunda lição de Esther: nada é de graça na capital do cinema. Tudo depende de sorte e um empurrãozinho.
Entra o produtor, Oliver Niles (o também ótimo Adolphe Menjou), que aparece como uma figura paterna para Esther e Norman, suas galinhas dos ovos de ouro. É ele quem concebe o nome artístico da novata, pegando seu segundo nome, Victoria, para cunhar Vicki e brinca com o primeiro para criar o sobrenome: “Esther… Bester, Cester, Dester, Fester, Chester, Hester, Jester, Lester! Vicki Lester!” Oliver também está sempre tentando livrar a barra de Maine. Ele demonstra uma placidez e uma generosidade não muito comuns para um homem em sua posição, às vezes parecendo mais amigo que patrão do casal e se preocupando mais com o bem-estar deles que com os interesses comerciais do estúdio.

Outra figura típica é o agente publicitário e fixer do estúdio, Matt Libby (Lionel Stander), que tenta escrever um perfil altamente floreado de Esther e é responsável por varrer os podres de Norman (a quem ele despreza) para debaixo do tapete e manter intacta a imagem do astro.

Norman promete parar de beber e pede a Esther (agora Vicki) em casamento. Para desgosto de Libby, eles optam por uma união discreta e sem publicidade, como faziam algumas celebridades da época (por exemplo, Clark Gable e Carole Lombard, que se casaram, em 1939, na pequena cidade de Kingman, Arizona). Durante a cerimônia, revela-se que o nome verdadeiro de Maine é Alfred Hinkle, uma possível piada interna com o sobrenome de Fredric March, que era Bickel.
Norman convence Oliver a escalar Vicki como protagonista de seu próximo filme, que é um enorme sucesso e a transforma em uma estrela da noite para o dia. Logo o nome dela substitui o dele acima do título no cartaz do filme. Dentro de pouco tempo, só se fala em Vicki Lester, e as pessoas começam a esquecer quem é Norman Maine.
É a senha para levá-lo de volta ao álcool. Em uma das sequências mais marcantes do filme, Vicki ganha o Oscar, mas o marido chega embriagado e interrompe bruscamente seu discurso de agradecimento, e ainda acerta sem querer um tapa em seu rosto.
A cena ecoa uma situação real vivida por Janet Gaynor. Quando ela faturou o Oscar na primeira edição do prêmio, em 1929, sua irmã apareceu bêbada na cerimônia e fez um escândalo, causando um grande constrangimento para a atriz. Além disso, a estatueta usada no filme é a da própria Janet.
Quanto mais Vicki sobe, mais Norman desmorona. A derrocada se torna irreversível, levando a esposa à decisão de interromper a carreira com a qual tanto sonhara para cuidar dele, o que culmina no trágico desfecho.
Chama atenção e seria difícil imaginar hoje em dia a abnegação de Vicki, que só se justifica pela compreensão do alcoolismo como uma doença. Mesmo assim, é possível ver reflexos de uma época em que as mulheres eram sempre vistas à sombra dos homens e o casamento devia ficar acima da carreira para elas. Felizmente, a avó, que desapareceu durante a maior parte do filme, ressurge para mais uma vez encorajá-la a seguir em frente após a morte de Norman.
Existem várias hipóteses sobre as fontes da história. Uma delas aponta o casal Barbara Stanwyck e Frank Fay – Fay era alcoólatra, abusivo e se ressentiu quando Barbara passou a fazer mais sucesso que ele. Outra inspiração seria o ator John Bowers, astro do cinema mudo que entrou em declínio com a chegada dos filmes sonoros e morreu afogado em novembro de 1936 (enquanto Nasce uma estrela estava sendo filmado), supostamente tendo se suicidado por não ter conseguido um papel no filme Almas no mar (Souls at Sea, 1937), dirigido pelo seu amigo Henry Hathaway.

O enredo tem uma considerável semelhança com o do filme Hollywood (What Price Hollywood?, 1932). David O. Selznick chegou a convidar George Cukor, diretor de Hollywood, para dirigir Nasce uma estrela, mas, devido às coincidências na história, Cukor recusou a oferta. A RKO, estúdio responsável pelo filme de 1932, cogitou processar a companhia de Selznick por plágio, mas acabou desistindo da ideia.
Nasce uma estrela foi um sucesso de crítica e público. Ganhou o Oscar de Melhor História Original (William A. Wellman e Robert Carson) e foi indicado às estatuetas de Melhor Filme (o primeiro filme em cores a concorrer na categoria), Diretor (Wellman), Ator (March), Atriz (Gaynor), Roteiro Adaptado (Alan Campbell, Robert Carson e Dorothy Parker) e Assistente de Direção (Eric Stacey). Além disso, W. Howard Greene recebeu um Oscar Honorário pela fotografia.
A história se mostrou popular a ponto de ganhar três remakes, todos no gênero musical: em 1954, com Judy Garland e James Mason (e dirigido por George Cukor, que havia recusado a versão original); em 1976, com Barbra Streisand e Kris Kristofferson; e em 2018, com Lady Gaga e Bradley Cooper. O primeiro também se passa em Hollywood, enquanto os dois seguintes são ambientados no universo da música pop.
Ficha técnica: Diretor: William A. Wellman Assistente de direção: Eric Stacey Elenco: Janet Gaynor, Fredric March, Adolphe Menjou, May Robson, Andy Devine, Lionel Stander, Owen Moore, Peggy Wood, Elizabeth Jenns, Edgar Kennedy, J.C. Nugent, Guinn “Big Boy” Williams e Vince Barnett Roteiro: Dorothy Parker, Alan Campbell e Robert Carson (baseado na história original de Robert Carson e William A. Wellman) Fotografia: W. Howard Greene Produtor: David O. Selznick Estúdio: Selznick International Pictures/United Artists País: EUA www.imdb.com/title/tt0029606/









